terça-feira, 19 de junho de 2012

Da Semente ao Girassol


Uma sutil troca de olhares, um sorriso e um nem tanto. Permeavam aquela meia-noite à meia luz num café alternativo na cidade de Sampa. O músico com certeza não tocava em português, e era possuidor de uma voz maravilhosa. O casal. Sentado num canto mais escondido, ainda com uma boa noção da acústica, seus rostos parcialmente iluminados por um abajur soprando tons menores quantificados em luz. Ela em jogo de sedução. Ele deixando-a confusa. Falava devagar, sorrisos educadamente demorados, a mão roça o cabelo de tempos em tempos, um bom flerte. As mãos não se tocam, o corpo tem medo do contato, não se sabe o que esperar. Medo de não ser, medo de ter, de decidir. Deixando seus corpos- talvez não- suas almas assumem a forma do arco. Como flecha tingindo os céus de uma tonalidade próxima ao violeta, cortando correntes aéreas, deslizando por túneis de puro ar e se vê livre de ser e ver. Para então enxergar-se em linhas férreas por onde viaja o som. A melodia, sua companheira de vida, enxuga de seu rosto trançado por lágrimas, criando sulcos na pele já tão acostumada à despedida. Senta na pedra, num quebra mar, numa rebentação, e crê no âmago de sua ciência que o céu derrama seu azul no oceano a fim de tingir-se de um rosa dourado. Termina a viagem só, e só, volta ao seu ser.
Sua pupila, tão viva, dilata espaços e fronteiras, cria mundos e os destrói, dentro de si e dentro de outros. Caminha com leve, sutil agilidade, um sorriso sapeca visto apenas pelo canto da boca ocultado ocasionalmente pela cabeleira negra e é o ultimo a desvanecer ficando a flutuar e se desmanchar numa porta. O coração aperta e a cabeça gira, a porta se abre revelando em seu interior negro e pouco perceptível, um jogo de espelhos e sombras, do qual o que mais vê são seus próprios olhos, negros, profundos, fitando outros olhos tão negros quanto, porém não tão profundos. E em meio ao torpor desordenado e caótico das emoções, uma sofisticada figura grega com seus arcos e flechas convertidas em promessas mudas e esperanças de futuro sai de cena.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pior dos Medos

Era gostoso o barulho da água na janela. Gostava de entrar escondido no carro do seu pai enquanto ele o lavava, dando grandes sorrisos quando pega em flagrante e saía correndo com uma gargalhada estridente molhando os lábios, escorrendo a felicidade e espalhando alegria como espuma por onde tocava. A infância é algo á se memorar, e agora vendo sua prima mais nova dançar um balé invisível com um parceiro imaginário sentia vontade de dançar com essa mesma espontaneidade. Já não podia mais. Namorava. Um rapaz promissor para as realidades daquela cidade minúscula e sem perspectivas de futuro, sonhavam alto, iriam se casar em um lugar remoto, uma cerimônia particular, com poucos convidados. Viam o mundo de maneira diferente, distante, louca... Sairia dali assim que possível. Ele, seu namorado, já morava fora há algum tempo e isso a deixava sem ter vontade de ficar, parecia que ele estava vivendo o sonho deles dois, sozinho. Dói, saudade. E é por isso que iria sair, aos poucos sentia morrer a alma nesta cidade “fimdemundo” em que se enfiara por puro descaso do Destino. Sentia a herança do seu nome a impulsionar a fugir daquela realidade assustadora e imutável, queria pegar seu Páris e fugir, nem que Esparta e Tróia se explodissem, não desistiria dessa felicidade. Aliás, se chamava Helena. Aos poucos observava o mundo, e tão gradativamente quanto, esse a fascinava. Seria hoje, a fuga, a janela lhe pareceu convidativa. Corda de lençóis, ainda era dia, mas que diferença faz? Dia ou noite, qualquer que seja a hora, é uma busca de liberdade. Sentiu as pernas falharem e o coração fraquejar. Sentiu a cabeça rodar. Gosto na boca era ruim. Ouvia sua avó lendo pequeno príncipe para ela dormir. Sentia-se sozinha, queria achar um cometa por ali. O espaço em volta era negro, mas era dia ainda. Podia pegar o manto negro... Era seda. Uma seda negra. Queria saber agora o que tinha lá, por detrás do manto negro. Tateou o manto, uma criatura, sem odor, sem rosto e sem piedade, puxou um punhal prateado banhado de lágrimas e de más decisões. Sentia em seu sorriso o mais puro medo, medo do futuro e de tudo que é incerto. O punhal entrou sem dificuldade, sem resistência, entre as costelas. A Saudade escorria escarlate, não era qualquer saudade, era saudade do futuro. Sentiu saudade do futuro... Olhou dentro dos olhos do assassino de seu futuro e sentiu sabor de sangue na boca, sentiu faltar o ar, sentiu-se desamparada estava imersa em Medo... Medo do Futuro.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Chapter Four - Triana

Para que viver? A pergunta ressoava na sua mente desde que havia recobrado a consciência. Qual seria o real sentido de se viver? Porque se mantinha naquela condição desgraçada de existência, sempre confinada, sempre excluída? Não merecia também ela viver de maneira agradável? O que tinha Triana de tão diferente capaz de mover os céus contra sua alma, contra sua vida e dignidade. Sentiu apertar o peito a solidão e escarneceram dela as lamparinas do próprio juízo. Não se faz mais necessário seu respirar... Alias nunca se fez. Talvez seja essa á hora perder o juízo de uma vez. Sempre! Cada minuto da sua desgraçada e desgarrada existência, ouvia entre os soluços do choro de sua mãe a contestação de sua loucura! Façamos por valer o titulo! É hora da maior loucura de todas...

Blam! Os macabros pensamentos somem por um instante, naquela sala escura, no chão do qual nem ameaçara levantar, quando a adrenalina de começa a correr descontrolada pelas veias de Triana, o coração acelera e os ouvidos se aguçam. Pula de pé com todo o corpo preparado para um combate. As pupilas se dilatam na procura da luz em meio, aquelas trevas. Uma sombra pula de um canto da sala e o rato se revela. A sensação que se seguiu, foi uma das mais maravilhosas que se aconteceu. Sentiu os músculos relaxarem e uma ilusão de segurança se apoderou dela.

Seria assim Amar?

Wow! Reprimiu o pensamento! Só para no instante seguinte lembrar-se que era louca, e aos loucos são concedidos alguns privilégios, como o de não precisar explicar seus pensamentos. Sentir-se segura, sentir que tudo de mal já passou e que tudo o que passou não vai repetir e o mundo agora era mais agradável. Deus! Como um rato muda as coisas... Há segundos antes teria se matado. Talvez fosse mesmo louca...

Sorriu!

Sim, Sorriu! Há quanto tempo não fazia isso? Já não sabia. E não queria saber. Só o que sabia é que precisava Amar. Amar e ser Amada. E o sorriso no começo tímido, deu lugar a um prazer incompatível com a sela em que se encontrava. E a alegria esquentava o lugar e deixava a energia nas coisas, sentia que podia... Que podia até derreter as paredes com tanto calor irradiado de um sorriso. Uma luz... Uma luz saía das sombras... A parede dava aos poucos lugar para a luz. A temperatura subia. O chão tremia. E Booom!

sexta-feira, 13 de março de 2009

Chapter Three - Matheus

“Don't worry about a thing, cause every little thing gonna be all right” era a única coisa que se ouvia no interior do Opala 1972 dourado, que rasgava o asfalto rumo a maldita cidade de Nova Marsuipe. Um terço, pendurado no retrovisor do carro, balança de um lado á outro num transe rítmico quase hipnotico, o motorista lança-lhe um olhar mal-humorado por detrás dos óculos escuros e no instante seguinte arrancou-o com vivacidez, atirando-o logo em seguida pela a janela aberta do carro.

“Rise up this mornig, Smile with rising sun, three little birds...”. O Motorista jogava sua cabeça para frente e para traz jogando seus longos cabelos trançados ao ritmo do reggae, tamboriliva com os dedos no volante sentido as vibrações sonoras da música atravesar toda sua alma. Certa altura da música acendeu um cigarro e tragou longamente sentindo todo sabor que pudesse ter a fumaça.

“Singing sweet songs, of melody pure and true, sayin this is my message to you – o- ou”. O telefone toca. Ele diminui o volume, enquanto o celular continua com seu toque exagerado. Tateia calmamente o porta-luvas, até que o sua mão se fecha sobre o causador do barulho, abafando assim sua intolerância sonora. Com um floreio exagerado e rápido ele atende o aparelho.
_ Alô?

Quem responde é uma voz divertida e alegre, que em tom de conversa de bar continua com o
diálogo.
_ Matt? É Você?
_ Lógico que sou eu. Qual é a boa?
_ Ouvi dizer que você rastreou um ninho em Nova Marsuipe, espero que tenha sucesso. Mais quero lhe pedir um favor.
_ Para de enrolar e me diz logo quem ou o que eu tenho que matar.
Ouviu-se risos do outro lado da linha.
_ É... você sabe bem das coisas. Na rota 726 há uma casa onde mora uma pequena orda de sanguessugas.
_ Tá... Já entendi. Eles não pagaram a mensalidade e você quer que eu dê um susto neles?
Derrepente a Voz do outro lado da linha assume um tom serio e aspero que pouco se assemelha com a voz que iniciou o diálogo.
_ Não Matt... Desta vez é serio. Eles cometeram um grave crime e a Cupula Senior quer suas cabeças.
_ Hum... Então considere feito.

E tão bruscamente como tinha começado a conversa terminou. Matt era assim, rápido e brusco em maioria das coisas que fazia e pretendia ser assim nessa próxima caçada. Olhou para o banco de traz pelo retrovisor do carro, sua mala estava lá, pronta para o serviço. Pegou o mapa no porta-luvas. Identificou a Rota 726 e traçou seu destino.

NO² - Revisão By Thiago (thiago.carmoxD@hotmail.com)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Chapter Two - Gabriel


A aurora do dia acabara de surgir por entre as fendas do horizonte, revelando o por seguir de um dia glorioso. Na frente de um Dodge preto uma cena de tão bizarra parecia cômica, um homem sentado em seu capô acendia um cigarro nas cinzas recém formadas de um vampiro decapitado. Seu rosto refletia a tranquilidade de um velho senhor da guerra, título não compatível com a sua tenra idade de 26 anos.

Gabriel era seu nome. Nome talvez não seja a palavra correta a se usar para um apelido de infância, mas há tempos não revela seu nome. Retirou com um floreio a sua Magnum do bolso, conferiu as balas só para no instante seguinte recoloca-la no bolso com um floreio ensaiado. Preparou-se para deixar o local, cada segundo era importante e não deixar rastros era o objetivo principal, olhou de soslaio o cigarro em sua mão e fez um careta involuntária, atirou-o pra longe. Segue rumo ao carro em um movimento ágil e preciso que visava chegar a lateral do veículo e ao mesmo tempo evitar o monte de cinzas aonde se encontrara o corpo inerte e sem cabeça do vampiro alvo desta noite.

Girou a chave. O carro roncou com a euforia de uma tourada em fúria. Gabriel olhou mais uma vez seus olhos de cor negra no retorvisor, sabendo que essa poderia ter sido sua última caçada, sempre poderia. Seu corpo todo entrou em extasy com o ronco do motor, todo ele parecia estar sintonisado com o carro, o coração da máquina parecia se suprir do mesmo sopro vital que o mantinha em pé e, como um, eles aceleram rumo ao próximo serviço. Ele não sabia o que o esperava, nem mesmo sabia parte do que estava fazendo, fazia dois anos que perdera a consciência do seu “Eu” interior. Olhou em um calendário enorme em um outdoor perto da saída da cidade, o que viu o trouxe a dolorosa e ao mesmo tempo saborosa lembrança de uma passado, que mesmo querendo, não podia esqueçer, passado esse do qual ainda trazia marcas. Não queria lembrar desse passado, deixou-o para traz junto com a esperança de ter uma vida normal. Pegou no porta-luvas do carro uma carta que, de tantas vez que foi lida, tinha a aparência de aspecto frágil que qualquer coisa que enconste nela irá rasga-la em mil pedaços. Com o cuidado de quem tem em mãos o maior dentre os tesouros, ele o ergueu a frente dos olhos para revelar uma escrita frágil e ao mesmo tempo poderosa de uma mulher. Guardou-a denovo do lugar de onde nunca deveria ter sido tirada e pegou uma outra carta, essa sim não lhe trazia lembranças dolorosas de um passado mais lhe dava a informação nescessária para a nova caçada.


Nova Marsuiipe

End- Rua Novais Dutra – 302
Favor vir imediatamennte

Sabia, parcialmente, do que lhe aguardava e reconhecia a letra de seu informante o Jet, só não sabia o porque que escrevera para que e Garbiel viesse com urgência, isso sim o preocupava. Jet nunca mandou nada parecido e por mais sutil que pareça, o fato de ele ter mencionado isso passa a Gabriel a sensação de que algo de muito errado aconteceu. Puxou o freio de mão fazendo o pneu cantar sua melodia macabra numa rua semi-deserta e logo em seguida o fez acelerar fazendo a rua virar um inferno de fumaça e cheiro de borracha queimada, sem mais demora pegou a estrada para Nova Marsuiipe.


NO² - Revisão By Thiago (thiago.carmoxD@hotmail.com)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Chapter One - Triana


Talvez se passasem séculos já, não sabia, a ciência do tempo era um luxo que a consiência não permitia ali no escuro daquela sela. Não sabia absolutamente nada sobre o que lhe rondava. E o pouco que a sua consciência permitia era destinado a não se perder em sua própria identidade, e até nisso já sentia nítida dificuldade. Quem poderia imaginar isso? Já sentia dificuldade pra saber quem ela própria era! Ela podia, e o fazia, e o vivia a cada dia desde o dia 19 de novembro de um ano que mesmo não sendo, lhe parecia longicuo e obscuro. Tudo começou neste dia, um dia que não se pode esquecer, o dia do seu aniversário.

Lembra-se como hoje, parece uma maldição que a única coisa das suas memórias que não se perdeu do Breu da sua subconsciência seja logo a mais terrível de suas lembranças. Suas memórias estavão frescas como se ainda estivesse lá. Sua saia verde limo que vinha insistindo pra que sua mãe comprasse e que hoje ela resolveu atender a súplica daquela criança de olhos verdes e boca fina. Foi correndo para o quintal de casa sorrindo, e gargalhando, de um sorriso tão límpido e gragalhava de maneira tão suave que quem ouvia dizia ser digno de uma fada ou de um ser de outro plano. Mais foi ai que começou o pesadelo. Tinha nove anos, sentiu a cabeça girar e o seu bolo de aniversário foi a última coisa que viu. Foi envolta por sombras dentro de sua própria consciência, e começou a ver, coisas, coisas que ninguém aguentaria ver, coisas a respeito de mortes, mortes sobrenaturais, planos sobrenaturais, correto seria mesmo dizer que ela via os planos do Destino. Mas, como toda criança daquela idade, Triana não entendeu o que se passava com ela, não entendeu o que o destino a reservará, e poucos anos mais tarde Triana amaldiçoou o destino pelo Dom que ele a deu. Dom? Não, o correto seria: Maldição.

Depois daquele dai nada foi normal. Sonhos a pertubavam a noite, mais não sonhos comuns sonhos comuns são até aceitaveis. Os sonhos de Triana eram terríveis! Sonhava com os desniveles do destino, em porte de figuras imaginárias que mesmo na mente mais fértil se puderá imaginar. Ela se desesperou. Como toda criança de sua idade. Seus pais confusos e talvez cegos a levaram de psicologo a psicologo de clinica a clínica e de religião a religião. E por fim encontraram uma clínica que a internou e lhe dava remédios controlados para que ela não sonha-se mais. Desde os noves anos seguia assim. Hoje tem 15 anos pelo menos é o que acha parou de contar quando completou 13, seus pais não a visitam mais e da vida que ela tinha só sobrou um passado que de tão distante já não se vê nem um vesquicio de sua existência.
Como que para interromper o obscuro de sua mente, a porta acochoada do sanatorio se abre e a primeira vez em tempos a luz invade o ambiente. Seus olhos não acostuamados a luz ardem com aquela invasão luminosa, uma sombra, uma silueta sobre a qual não se pode muito dizer bloqueia a luz e á passos mansos e largos aproximam-se. Ela sente uma leve picada no braço, para logo em seguida adormecer em um sono desprovido de sonhos malevolos.
NO² Revisão By - Thiago (thiago.carmoxd@hotmail.com) VLW Thics!!!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ao Luar

Acaso um dia eu conhecesse o amor
Seria como construir o ninho do passarinho
E aprender cantar sozinho
A canção que dele soou
Acaso um dia eu conhecesse o amor
Seria como chegar até as estrelas
Bem antes da morte delas
Da morte delas...
Acaso um dia eu conhecesse o amor
Seria como interpretar uma sonata
Sem dantes ter um instrumento
Sequer ter sido conhecido sua matéria prima
Porém ouvi-la em minha mente
Antes
Acaso um dia eu conhecesse o amor
Seria como sentir o que sinto agora
Sob o luar dos amantes
Com o coração virado pra fora
Num luar em quarto minguante...


Roubado do www.blog.daniellakai.com ^^
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